quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Um Pescoço, uma dor e o medo: reflexões de dias estranhos.


No filme Taiwanês O RIO, o personagem vivificado pelo ator fetiche do diretor Tsai Ming-Liang Lee Kang-sheng mergulha num rio poluído a fim de protagonizar uma cena em um suposto filme, ao passo que depois da execução do trabalho ocasional, uma estranha dor toma conta de seu pescoço. O filme se desenrola entre as visitas do personagem a uma sauna para homens solitários, a busca desmedida pela cura, um céu que teima em desabar em águas e uma incomunicabilidade desconcertante . A narrativa fílmica revela o mundo caótico de uma civilização destroçada em sua identidade pelos processos de produção que foram forjados ao longo da história e que em sua face mais cruel, além de desintegrar o que é sólido e referencial, passa a fragmentar a subjetividade do indivíduo, diferenciando-o e ao mesmo tempo tornando-o homogêneo e passivo no processo hodierno de subjetivação, o personagem pouco reage aos acontecimentos que lhe arrastam no seu cotidiano amorfo e entediantemente dolorido.

Lembro aqui dessa Obra-prima do cinema atual, porque desde que o ano entrou de porta a dentro que sinto uma anomia solitária em meu cotidiano, um mal-estar solapante do mesmo modo qual o personagem Hsiao-kang é imerso. Nas minhas últimas leituras apreciativas revelava que o cuidado de si é uma arma para resistir a máquina impiedosa da política econômica que nos circunda em dias pré-apocalípticos, quiçá apocalíptico, em que estamos vivendo. Em tal leitura, o autor lembrava que os gregos nutriam uma busca pela verdade interior capaz de construir uma interioridade baseada em uma estética da existência e defende que se já foi possível construir uma existência em que o dizer a verdade era imprescindível para a modulação de uma dada subjetividade, é possível encontrar brechas para produzir uma subjetividade que resista as imposições tecno-biológicas que exercem seu poder sobre os corpos. Mas sinto cada vez mais uma amargura tamanha que hoje amanheci com um dor lancinante em meu pescoço, resta-me produzir suspiro estéticos de existência ainda que virtuais....

e sejam bem-vindos.....

J.

Um comentário:

Pseudokane3 disse...

Sendo a palavra-chave aqui: ANOMIA. Tu a usaste agora, antes e depois...

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