quinta-feira, 26 de abril de 2012

A INSÔNIA E O FILME DE SOKUROV - EXISTE CURA PARA TODO MAL?


Aleksandr Sokurov, assim se chama o responsável pela minha insônia de hoje, acordei no meio da madrugada e não voltei a dormir, em meio a vários pensamentos desconexos e ou antecipatórios de situações/projeções futuras, o filme PAI E FILHO (2003) se tornava quase onipresente. Eu vi o filme na tarde anterior a essa madrugada insone. Confesso que o entendimento do filme ficou longe de uma satisfação plena, mas ele pareceu sinestésico para mim, com todo o clima onírico e desejoso que a relação entre um jovem pai e um filho já iniciando a idade adulta poderia passar- isso em uma situação (semi)ideal. Além de ser magnificamente interpretado e dirigido com uma pegada teatral e sob uma rígida e sentimental trilha sonora, o filme parecia entrar no passado e estar sempre num embate em que, salvo uma situação, a autoridade paterna não era o alvo crítico nem muito menos levada em conta  na dramatização da narrativa. Tentei ler o filme como uma representação subjetiva de um ideal romântico na busca interior pela aceitação daquilo que você projeta como um desejo irreconciliável com aquilo que você quer e aquilo que você pode ser/ter.  



Contudo, PAI E FILHO é um filme russo e não por acaso os dois personagens são militares, de modo que não podemos perder de vista contexto cultural e histórico ao qual ele foi criado. Pode ser que entender os dois personagens como metáforas ou mesmo como uma alegoria de uma nação que passou/passa  por uma situação político-econômica extremada possa soar forçado, mas bem que poderíamos ensaiar. O pai poderia ser a representação da antiga união soviética robusta e iluminada como um forte sol em meio à neve, mas que se mostra incapaz. O personagem paterno sofre não só por ciúme inconfesso de seu filho manter relações que vão além dele mesmo, como também por um ferimento agudo no pulmão, sua caixa torácica, ou seja, sua fragilidade é o tempo todo escancarada pelo filho, essa nova Rússia, não mais socialista, mas que revela ser o desejo inconfesso de uma antiga nação que chafurdou numa tentativa inglória de estabelecimento de uma nova ordem socioeconômica. Tal filho mantêm relações de poder com o pai e sobre aqueles com que se relaciona, sempre se colocando no centro por onde tais relações se estabelecem. No inicio o filho está no colo do pai e este afirmando que o salvou logo depois o filho está sozinho em um caminho, sim a nova nação seguirá por um novo caminho, a antiga ficará no passado como uma sombra fria que poderia ser e que não foi, e o máximo que poderia ter feito foi parir essa nova Rússia, foi salvar esse filho que herdará apenas as armas de um exército sangrento.





Mas pode ser que nada disso seja, e eu não sei como será o meu dia depois de só 4 horas dormidas...

J .

domingo, 22 de abril de 2012

Subjetivação e práticas de si: é possível se tornar uma pessoa melhor?


Acordei na madrugada assustado com um sonho do qual não me lembro, pior que sonhar é não lembrar o sonho. Bem, cansado não conseguia voltar a dormir, levantei dei uma mijadinha e fui fazer uma limpeza no meu computador, depois de botar alguns filmes do Brian Depalma pra baixar voltei a dormir.....  Acordei quase nove, levantei de mal humor. Joyce viajou e Aelton foi fazer um bico, digo, ser fiscal numa prova de um concurso local. Fiquei quieto no meu quarto lendo as densas linhas da tese adorniana sobre Kierkegaard. Aqui Adorno faz uma severa crítica ao sujeito e a filosofia burguesa-cristã de Kierkegaard. KIERKEGARD – A COSTRUÇÃO DO ESTÉTICO é daqueles livros implacáveis do filósofo da escola de Frankfurt, mas como sempre percebo um tom arbitrário em muitas de suas afirmações, todo caso acho que ele não entendeu ao que Kierkegaard se opunha e como ele fazia isso  (só lembrando que um dos primeiros textos de Adorno ele ainda jovem) Gosto de algumas de suas formulações críticas, mas é inegável que Kierkegaard se afastava da política por que não via saída pro homem por esse viés -é preciso realmente construir um privacidade subjetiva filosófica e religiosa, em outras palavras, construir um ética-estética da existência. O dado livro está me ajudando a projetar um futuro texto sobre a relação Kierkegaard- Nietzsche- Foucault que estou em mente, por mais que o livro seja muito difícil e duro de escavar seus conceitos, tenho certeza que ao final ele me será muito útil.
E falando de ética, estética e existência, me submeti a uma maratona de filmes “bixas” produzidos no ano de 2011 no dia de ontem e comecei pelo filme nacional e adolescente “ OS 3”  de Nando Olival que não é bem bixa, mas estava valendo como  um processo de descobertas amorosas e sexuais,  no qual 3 jovens universitários dividem um apartamento e desenvolvem uma afetividade mútua e seguido pelo  igualmente adolescente, mas de uma simplicidade estonteante e porque não apaixonante  filme belga NOORDZEE, TEXAS de Bavo Defurne sobre a construção do fetiche sexual e dependente deum adolescente, passando pelo quase ruim filme argentino do Marco Berger AUSENTE, sobre outro adolescente que tenta seduzi seu professor com táticas heterodoxas e por fim o maduro e discursivamente complexo J. EDGAR  de Clint Eastwood sobre o criador do FBI e seu relacionamento casto com o numero 2 da instituição por mais de 30 anos. (foto é o casal real) E ao final o que eu queria com isso? me tornar uma pessoa melhor? Ainda não sei mais foi me dado vários contra-exemplos!

J.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

E por acaso já fim de semana...

"Bem, sabe como é quando você dorme pela primeira vez com alguém que não conhece?

 -Sim.

 É... tipo, você torna-se uma tela em branco e isso te dá uma oportunidade de projetar nessa tela quem você quer ser.E é isso que é interessante, porque todo mundo faz isso.

 - Então, você acha que eu o fiz?

 - Claro que fez.
 Bem, o que acontece é,enquanto você projeta quem quer ser, abre-se uma fenda entre quem você quer ser e quem você realmente é, e nessa fenda, você vê o que lhe impede de se tornar quem você quer ser."

 e eu não conseguia mais respirar direito, me via completamente desnudado....

 J.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

De volta à rotina sagrada.


Depois de alguns dias em off devido a uma viagem a minha cidade natal, volto ao meu atual cotidiano. A chegada é sempre difícil. Reorganizar a rotina e por as leituras em dia.

Foram dias iluminados que passei em Aracaju, mesmo que frustrado com um péssimo desempenho no concurso em que participei, esse me deu uma excelente oportunidade nostálgica. Fui tomado por um intenso prazer em rever os amigos da graduação em voltar à boemia outrora tão vivaz em meu coração, mas adormecida nesses dias insones, conversas nostálgicas e tantas outras que foram suficientes para superar o mal-estar e a baixa-estima advinda da situação incômoda.

Para além dessa experiência nostálgica, está de novo e de novo com meus eternos amigos-irmãos sempre é de um gozo carnal-espiritual inconteste, Wesley de Castro, Nina Sampaio, Tiago Oliveira, Wesley Soares, Roberta Fideles, Rafael Alcântara, Vanessa Lacerda, Carlos augusto, Aelton Leonardo e ainda Alessandra, está com vocês é algo incomensurável, inexplicável, cada um com seu dilema, com sua singularidade egocêntrica, cada um sofrendo e sorrindo daquele jeito único que nos faz uma família heterogeneamente homogênea da pesada! Amo vocês de todo coração, alma, corpo, sangue e vida.

Ainda passei o feriado santo com minha família oficial da qual gosto muito. Repito: gosto muito! Mesmo que isso tenha sido pelo esforço do contingente fato de eu ter nascido em meio a estas pessoas das quais sou tão diferente.

E para recomeçar meu cotidiano hoje volto a publicar em meu querido diário virtual, escuto o disco de 1972 de Rita Lee - HOJE É O PRIMEIRO DIA DO RESTO DE TUA VIDA, ótimo álbum ainda influenciado pelo som desconstrutivo dos MUTANTES, se não me engano foi produzido pelo Arnaldo Batista. Com uma mistura de ritmos alucinantes e letras psicodélicas tão marcantes da antiga fase da cantora e já ensaiando em algumas faixas de sua nova fase. Preparo-me para ver o filme do dia enquanto meus companheiros de república tentam instalar um nono roteador para nossa internet, a tarde irei a biblioteca pesquisar e a noite vou dar uma caminhada para sair da sedentarismo e no fim da noite voltar a leitura de CAROL de Patricia Highsmith e assim a vida continua...